23.6.08

Morreu um comunista: nasceram ainda mais forças nos corações dos que ficaram!


No último sábado, dia 21 de junho, faleceu, aos 87 anos, o histórico jornalista e comunista paraibano Oduvaldo Batista. Há sete meses, ele havia sofrido um AVC, que lhe tirou parte dos movimentos do corpo e o forçou a se alimentar por uma sonda. Recuperava-se bem, em casa, quando um quadro de infecção se instalou e o obrigou a se internar na UTI do Hospital Memorial São Francisco. Veio a óbito às 10h30, com falência múltipla dos órgãos.

Nesse período, apesar da enfermidade, permanecia consciente todo o tempo, mantendo-se informado sobre os acontecimentos políticos, ouvindo música clássica e travando discussões com os que o visitavam. E o mais importante: nunca deixou de acreditar, a partir de uma análise científica, marxista, da história e da sociedade, na vitória final do socialismo sobre o regime da escravidão moderna.

Nascido em Alagoa Grande, em 11 de maio de 1921, Oduvaldo veio para a capital paraibana ainda criança, onde fixou residência. Na juventude, entrou para a Marinha, donde teve os primeiros contatos com o Partido Comunista, deixando a corporação pouco antes do ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Morou durante longos anos em Santos e também em São Paulo.

Tornou-se jornalista por ofício e, em todos os jornais por onde passou, seja na imprensa paulista ou paraibana, deixou sua contribuição de ética e crítica política. Atuou ainda na Associação Paraibana de Imprensa e no Sindicato dos Jornalistas da Paraíba. Sua trajetória de vida e de luta está registrada no livro Compromisso com a verdade – Meio século de jornalismo, preparado por ele e sua filha Roselis. Com mais de 80 anos, ainda integrava os quadros do jornal O Norte, em João Pessoa, além de escrever regularmente para os jornais comunistas Inverta (PCML) e A Verdade (PCR).

Camarada Oduvaldo! Tive o privilégio de te conhecer, de aprender um pouco sobre a vida contigo, de ir buscar teus artigos para o jornal A Verdade e tua contribuição material para o Centro Cultural Manoel Lisboa. Em quase todos os nossos encontros, tu me contavas (e eu bolava de rir) aquela sua controversa tese sobre a exclusividade da monogamia dos pingüins.

Na última oportunidade em que estive em tua casa, conversavas sobre Cuba e as conquistas da Revolução com nosso querido poeta Políbio. Impressionei-me com tua consciência, pois quando te vi ainda na UTI do Hospital Universitário, logo após o AVC, juro que pensei que dali não sairias mais. Parecia já morto. Mas tu só dormias. Lá em tua casa repetistes mais uma vez: “o socialismo triunfará, pois é resultado de uma marcha histórica invencível”.

Ontem, no teu enterro, chorei mais de uma vez. Fiz questão de segurar na alça de tua última veste, pois era a única forma de te abraçar. Chamei pelo teu nome três vezes e todos responderam: “presente!”. Cantei junto o refrão da Internacional, e nunca essa melodia, já tão familiar aos meus ouvidos, soou-me tão deliciosa.

O final de tarde estava lindo em nossa capital, vestido de azul e laranja. Deixamos-te lá, naquele lugar sombrio, entre tantos outros também vestidos de mármore, madeira e terno preto. Mas dentre todos, talvez só tu estivesse vestindo, bem no fundo da alma, a grande bandeira vermelha.

Enchestes a nós com teu exemplo, e, assim, ficamos felizes por ti.


Oduvaldo Batista: presente!
Viva o socialismo!


João Pessoa – PB, 23 de junho de 2008

Rafael Freire,
jornalista e comunista

5.6.08

Enchentes no Nordeste: tragédia da natureza ou descaso dos governos?

Neste início de ano, mais uma tragédia se abateu sobre o povo pobre do Nordeste: o aumento significativo do número de chuvas provocou enchentes que arrasaram cidades inteiras, mataram cerca de 40 pessoas e deixaram quase 600 mil desabrigados ou desalojados, com fome, frio e doentes. Os estados mais afetados foram Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Existem culpados por isso? Terá sido essa uma tragédia da natureza ou uma tragédia humana?

O ser humano não descobriu ainda uma forma de evitar que tanta água caia do céu de uma só vez, fazendo com que as chuvas viessem sempre em períodos pré-determinados e de forma bem distribuídas ao longo do ano. E dificilmente o conseguirá. Mas o ser humano já descobriu, e é de domínio dos governos a tecnologia e o conhecimento capazes de prever quase com precisão quando haverá ou não chuvas, secas, nevadas e outros tantos fenômenos meteorológicos. É tanto que o governo federal, os governos estaduais e as maiores prefeituras do país possuem programas para prevenção de tragédias, Defesa Civil e outros órgãos que deveriam garantir que os fenômenos naturais não se transformassem em desastres.

Descaso do governo federal

Segundo o instituto Contas Abertas, que busca dar publicidade à aplicação dos orçamentos por parte das administrações públicas, o governo federal gastou, nos três primeiros meses do ano, R$ 14,9 milhões com o programa de prevenção de desastres, enquanto que com a “resposta aos desastres” gastou mais do que o dobro: R$ 38 milhões. Ou seja. Preferiu remediar a prevenir!

E mais. Nesses três meses, nenhum centavo foi reservado para a ação de apoio a obras preventivas de desastres, que é parte do programa de prevenção.

Em 2007, a diferença de gastos entre os dois programas foi ainda maior. O Ministério da Integração Nacional desembolsou R$ 53,5 milhões dos recursos destinados ao programa de prevenção e preparação para emergências e desastres, que inclui obras de contenção de encostas e canalização de córregos. O valor representa apenas 20% da verba prevista em orçamento para o programa. Entretanto, no mesmo período, o órgão destinou um montante seis vezes maior (R$ 347,9 milhões) para o programa de “resposta aos desastres”, que atua após as calamidades já terem acontecido e vidas terem sido perdidas para nunca mais voltar. A quantia equivale a 63% do que estava autorizado em orçamento.

Por fim, dos nove estados que compõem a região Nordeste, seis receberam, em 2007, a quantia de R$ 15,6 milhões através do programa de prevenção. Entre estes, não estavam o Piauí e a Paraíba, justamente os dois estados mais atingidos pelas enchentes, que nada receberam no ano passado por meio do programa.

Paraíba: muitas mortes e destruição

Muitos números foram divulgados pela grande mídia, e a cada dia víamos aumentar as conseqüências das enchentes. A Paraíba foi o estado mais afetado. Até o dia 26 de abril, foram registradas 26 mortes, 124 municípios atingidos, quase 20 mil desabrigados e desalojados, 407 açudes que se romperam, dez pontes destruídas, seis estradas estaduais interditadas e outras 30 em situação precária.

Uma das regiões mais castigadas foi a de Sousa, no Alto Sertão paraibano, onde pelo menos oito municípios vizinhos ficaram mais de uma semana completamente isolados, sem nenhum tipo de acesso. Não era possível entrar nem sair das cidades, onde várias pessoas ficaram doentes e sequer havia energia elétrica e abastecimento de água potável.

Além de não ter recebido nenhum repasse para prevenções de desastres por parte do governo federal, a Paraíba sofreu ainda mais por conta do completo abandono em que se encontra a administração pública estadual. O governador Cássio Cunha Lima (PSDB) teve o mandato cassado duas vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral por ter sido comprovada a compra de votos com recursos de um programa assistencial e o uso do jornal estatal A União para propaganda indevida, a fim de garantir sua reeleição em 2006. Cássio ainda se mantém no cargo por meio de liminares conseguidas no Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, e ainda enfrenta um outro processo de cassação por desvio de recursos públicos, por meio de licitações fraudulentas, para financiar sua campanha.

Nordestinos ainda sofrem as conseqüências

Mal as chuvas amenizaram, e a população começou a sofrer com outros problemas, decorrentes das enchentes. Os casos de dengue no Nordeste aumentaram numa média de 50% em toda a região, em relação ao mesmo período do ano passado, e alguns institutos nacionais já falam na possibilidade de uma epidemia nas proporções da que se processa no Rio de Janeiro. Outras doenças como leptospirose, cólera, bronquite e conjuntivite também se espalham e já fizeram até vítimas fatais.

E o pior: como estas 600 mil pessoas atingidas irão viver agora? Suas casas foram completamente destruídas ou danificadas. Alimentos, roupas, móveis e eletrodomésticos levados pelas águas. A infra-estrutura, que já era pouca, foi aniquilada. Vidas foram ceifadas, empregos perdidos, esperanças arrancadas. Só sobrou lama e desespero.

Os compromissos dos governos burgueses e os compromissos do povo trabalhador

A atitude dos governos diante deste problema só mostrou mais uma vez que seus compromissos não são com os pobres, mas sim com a classe da burguesia, com os grandes capitalistas nacionais e internacionais. Enquanto o governo federal, comandado pelo presidente Lula e o PT, destina todos os anos R$ 160 bilhões para pagar os juros da chamada dívida pública interna, deixou de aplicar recursos já previstos em seu orçamento que serviriam para preservar a vida de brasileiros e o patrimônio do povo.

Toda essa chuva, inclusive, serviu para evidenciar mais uma mentira do governo federal: a transposição do Rio São Francisco. Boa arte das chuvas se concentraram no Semi-Árido nordestino, mostrando que o problema dessa região não é a falta de chuvas, mas o não-aproveitamento da água que cai e a concentração nas mãos de poucos da água que é represada. Se houvessem investimentos para a construção de mais barragens, açudes, poços e cisternas a água das chuvas, que hoje causa destruição, seria garantia de abastecimento permanente para o povo nordestino, amenizando os longos períodos de estiagem. A transposição do Rio São Francisco não seria necessária, e, ao invés de beneficiar os latifundiários e as mega-empresas do agro-negócio, sairiam ganhado a natureza e o povo pobre do Sertão.

Só a força do povo trabalhador pode manter acesa a chama da vida diante de tanta tragédia. Tragédia humana, descompromisso dos governos burgueses com o povo. Só a capacidade de construir, de reconstruir, de produzir, de modificar da classe operária pode pôr de pé novamente tudo o quanto de material foi destruído. Nada pode derrotar essa força invencível, que só pertence a quem trabalha. Nada pode derrotar o compromisso do povo trabalhador com a vida e com luta por um mundo novo, sem tragédias e injustiças.

Rafael Freire

25.1.08

A Vida é um Sopro – 100 anos de Oscar Niemeyer

Para nós, brasileiros, falar de Arquitetura é quase o mesmo que falar de Oscar Niemeyer. Este arquiteto, que em 15 de dezembro de 2007 completou 100 anos de vida, não é somente um dos maiores ícones mundiais da Arquitetura Moderna. É, sobretudo, um exemplo de trabalho e dedicação.

Sua Arquitetura é admirada em todo o mundo. Seus edifícios mais famosos – o conjunto da Pampulha (MG), a Casa das Canoas (RJ), o Palácio da Alvorada e a Catedral de Brasília, entre outros – são um deslumbramento aos olhos; transformaram-se em símbolos. É a integração da curva, da leveza arquitetural e da sedução visual; inseparáveis em cada uma de suas obras. E ele, o arquiteto apaixonado pelas infinitas possibilidades do concreto armado.

O documentário A Vida é um Sopro, com direção e roteiro de Fabiano Maciel, lançado em meados de 2007, foi feito em homenagem ao centenário desse homem que, com o gesto do desenho, conseguiu transformar a história da Arquitetura Moderna Brasileira e fincá-la no rol das obras dos grandes mestres da Arquitetura do século XX (recebeu, inclusive, o título de “Arquiteto do Século XX” pelo Conselho Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil, em 2001).

Será possível contar a história de um povo através de sua Arquitetura? O questionamento que aparece no sítio oficial do documentário pode ser respondido de maneira bastante simples: Oscar Niemeyer – assim como os gregos e romanos antigos –, por meio de seus edifícios-símbolo, conseguiu mostrar a todo um povo que a Arquitetura é, de fato, a marca mais importante do homem por onde ele passa. Porque a Arquitetura permanece.

O filme foi dividido em quatro partes. A primeira mostra sua história pessoal e a descoberta da Arquitetura. A segunda, a “cruzada” que foi a construção de Brasília, no final da década de 1950. A terceira e a quarta partes foram reservadas ao Oscar pensador, filósofo e comunista. É nesse momento que ele expõe o que passou no exílio durante a ditadura militar, explica seus monumentos de protesto e seus pensamentos acerca da sociedade. Tudo isso acompanhado de, obviamente, inúmeros edifícios, esculturas, casas, croquis, enfim, de seus mais representativos projetos e muitos desenhos. Também estão presentes depoimentos de críticos e amigos, entre eles José Saramago (escritor português), Chico Buarque (compositor), Ferreira Gullar (poeta e crítico de arte), Eduardo Galeano (escritor uruguaio). Este último disse:

“É sabido que Oscar Niemeyer odeia o capitalismo e odeia o ângulo reto. Contra o ângulo reto, que ofende o espaço, ele tem feito uma arquitetura leve como as nuvens, livre, sensual, que é muito parecida com a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro. São montanhas que parecem corpos de mulheres deitadas, desenhadas por Deus no dia em que Deus achou que era Niemeyer.”

Uma bela viagem visual por suas mais significativas obras – esse é um dos principais motes do filme, que além de nos fazer conhecê-las, faz-nos também compreender o processo de concepção de cada uma delas. E assim Niemeyer fala de Brasília, da singularidade arquitetural de sua catedral e da concepção estrutural dos palácios, em especial o Alvorada. Mostra a idéia do Museu de Arte Contemporânea de Niterói-RJ (carinhosamente apelidado de “Disco Voador”); a concepção arquitetônica clara e simples da sede do Partido Comunista Francês e seu auditório semi-enterrado; a Universidade da Argélia; a sede da ONU em Nova Iorque.

Todos os projetos apresentados no documentário são explicados e redesenhados pelo próprio Niemeyer enquanto é entrevistado, mostrando como desenvolve seu processo projetual e como chega às soluções arquitetônicas: algumas de uma simplicidade impensável, outras mais caprichosas. Todas, porém, belas na busca da forma pela forma.

Outro aspecto importante em A Vida é um Sopro é fazer notar que, junto ao mestre, estão muitos outros ícones: o trabalhador, o operário, o pensador, o intelectual, o revolucionário. É comovente e incomum encontrar um homem que, aos 100 anos, trabalhe tanto quanto na época em que tinha 30. Naquele momento, participava da construção do Movimento Moderno ao lado de outros grandes intelectuais e artistas e, posteriormente, trabalhou inexoravelmente a construção de Brasília. Hoje, diariamente, o velho Oscar passa o dia inteiro em seu escritório, projetando. Até parece que toda a sua lucidez vem daí, da consciência de que o trabalho é o motor que dignifica a existência dos homens.

É um prazer para mim, arquiteta, falar de Oscar Niemeyer. Mas ainda melhor do que falar de sua Arquitetura de belas e orgânicas formas é reconhecer nele a consciência da busca por um mundo melhor. Certa vez, ele disse: “O que me incomoda não são os desacertos da vida, mas a dor imensa dos mais pobres – diante do sorriso indiferente dos abonados”.
Feliz aniversário e muitos outros anos de vida, companheiro Oscar.
Pricylla Girão, arquiteta

Sítio Oficial: www.avidaeumsopro.com.br
Direção e Roteiro: Fabiano Maciel
Direção de Fotografia: Marco Oliveira e Jacques Cheuiche
Produção: Santa Clara Comunicação
Duração: 90 minutos
Lançamento: 2007


2.11.07

“Viagem” - trecho do cap. 24

Visita a uma casa onde repousam trabalhadores da indústria do chá. Passam aqui as férias, um mês por ano. A permanência custa 700 rublos, mas eles apenas pagam 30%; o resto é pago pelo sindicato. [...]

Nas salas vastas, jogadores, entretidos nos lances do xadrez, nem pareciam dar conta da nossa presença. Admirava-me não distinguir neles nenhum dos sinais entre nós perceptíveis na classe obreira: gestos esquivos, olhares suspeitosos, maneiras bovinas, indícios de pensamento lerdo. Parecem desconfiar das criaturas bem vestidas e educadas. Certo crítico, anos trás, me insinuara utilizar num romance os camponeses do Nordeste. Apesar de sertanejo, achava-me incapaz de fazer isso, e antes de viver com esses homens na cadeia, dormindo nas esteiras podres e dividindo fraternalmente os percevejos, não me arriscaria a aceitar o conselho. Aqui se atenuaram as diferenças, afinal desapareceram; os indivíduos que jogam xadrez são aparentemente iguais a nós, nãoo têm motivo para julgar-nos inimigos. Ainda estamos longe deles, é claro: somos estrangeiros – e, embora vivamos do nosso trabalho, fomos criados na reverência aos tipos hábeis que vivem do trabalho dos outros. E admiramos haverem-se apagado aqui as divergências. Ocorrera-me, passeando em Moscou, fazer uma pergunta: – “Mme. Nikolskaya, essa moça aí perto é empregada em oficina ou em repartição pública?”. A Sra. Nikolskaya examinara a mulher por todos os lados e concluíra: – “É impossível saber. Não achamos distinção”. Moscovita, a Sra. Nikolskaya se revelara incapaz de satisfazer-me a curiosidade. Um ofício não é superior a outro – e os homens tendem a uniformizar-se. Essa idéia choca o nosso individualismo pequeno-burguês: achamos vantagem nas discrepâncias, receamos tornarmo-nos rebanho. E nem vemos que somos um rebanho heterogêneo, medíocre, dócil ao proprietário. Queremos guardar o privilégio imbecil de não nos assemelharmos ao vizinho. Enfraquecendo-nos, julgamos-nos fortes. Realmente, somos bestas.

Graciliano Ramos, 09 de agosto de 1952

(Cidade de Gagra – Geórgia, às margens do Mar Negro, na antiga URSS)



22.10.07

A tropa de choque da elite


O mais novo sucesso de público do cinema nacional, “Tropa de Elite”, do diretor José Padilha (o mesmo de “Ônibus 174”), foi lançado em todo o Brasil no dia 12 de setembro, mas, mesmo antes disso, já era fartamente visto devido às cópias piratas vendidas aos milhões nos centros de comércio informal.

Muita polêmica em torno do filme foi levantada: pirataria, corrupção na Polícia Militar, tráfico de drogas, violência, etc.. No entanto, a forma como toda a grande imprensa repercutiu esses temas não passou, como sempre, da superficialidade e da reafirmação dos pontos de vistas burgueses. E mais. Muita gente tem comprado gato por lebre, acreditando que o filme possui um caráter “progressista”.

A crítica que o filme faz à classe média, ao mesmo tempo fiel consumidora de drogas e indignada com a violência, ao ponto de sair às ruas pedindo paz, é contundente, porém esconde o real problema que envolve o tráfico de drogas. Os consumidores da classe média são colocados como os principais responsáveis pela sustentação do tráfico. Não é citada, nem de relance, o quão lucrativo é o tráfico de drogas em todo o mundo, constituindo-se hoje no maior segmento do comércio internacional. Ou seja. Os consumidores não passam de mais uma das peças neste tabuleiro. Quem joga a partida são, na verdade, mega-investidores, todos ligados a grandes empresas, bancos e políticos burgueses.

Denúncia da corrupção na polícia?! É muito fácil falar mal daquilo que já é desmoralizado por consenso. Não há quem não saiba hoje que a polícia age tão “fora da lei” quanto os “bandidos”, e que é a principal parceira do crime organizado, incluindo aí o tráfico de drogas.

Difícil mesmo é engolir a apologia à violência policial que o filme nos apresenta a cada cena. O Bope (Batalhão de Operações Especiais) é a encarnação carioca dos dizeres de Friedrich Engels: “o Estado é um destacamento de homens armados”.

Destacamento de homens muito bem armados e treinados para reprimir e matar. E, ao contrário do que o filme tenta mostrar, o Bope não atua só sobre os “bandidos”, mas sim sobre toda a gente pobre. Atua contra o favelado, como muito bem exemplifica uma das palavras-de-ordem da corporação não utilizada no filme, mas muito bem conhecida de quem mora nas favelas do Rio de Janeiro: “O interrogatório é muito fácil de fazer/ Pega o favelado e dá porrada até doer/ O interrogatório é muito fácil de acabar/ Pega o bandido e dá porrada até matar”.

Outro dado “esquecido” é que o próprio livro que deu origem ao filme (“A Elite da Tropa, escrito por Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope e co-roteirista do longa) fala de um comandante do Bope que tentou ficar com parte do dinheiro recuperado do assalto a um banco. Isso vai de encontro ao mito que se tenta construir, de que existe a polícia corrupta (a PM), e a polícia incorruptível (o Bope).

Os três principais personagens do filme, o capitão Nascimento (Wagner Moura), e os recrutas Neto (Caio Junqueira) e André Matias (André Ramiro) são mostrados como pessoas de bem, humanas, com seus conflitos pessoas, comuns aos de qualquer outra pessoa, no intento de contrapor à imagem implacável de suas ações.

Nascimento, preocupado com o filho prestes a nascer e com a vida afetiva com sua esposa, busca incessantemente alguém para substituí-lo. É aí que entram os dois jovens policiais, dedicados e honestos, o valente Neto e inteligente Matias, amigos de infância e dispostos a ingressar no Bope por perceberem a corrupção entranhada nos batalhões da PM.

As cenas de tortura são fortes e constantes em “Tropa de Elite”, e, de modo geral, conduzem o espectador a considerá-las uma medida dura, porém necessária, para obter informações que viabilizem a captura dos traficantes. Chega a ser impressionante assistir ao filme no cinema e ver que a sala quase toda solta risos de uma felicidade doentia, misturada a um sentimento de que a justiça está sendo feita.

No entanto, a mesma tortura reverenciada em “Tropa de Elite”, aparentemente direcionada aos “bandidos”, mas que recai sempre também sobre os moradores das favelas, é a mesma tortura utilizada pelas forças de repressão do Estado quando da Ditadura Militar.

Quantos não foram os interrogatórios clandestinos? Quantas pessoas impelidas psicologicamente, feridas, dilaceradas, friamente assassinadas? Só de mortos nestas condições foram quase 400 em todo o país durante duas décadas de domínio do fascismo e da idolatria da repressão sobre os “bandidos” de então, os militantes políticos que lutavam por democracia e pelo socialismo.

Para todos aqueles que ainda sonham e lutam por estes objetivos, fica a certeza de que este aparelho repressivo é a reserva de força para conter os levantes populares. O Bope, assim como o conjunto das polícias e das Forças Armadas, compõe o aparelho estatal sempre a postos para garantir a “normalidade” do sistema, a salva-guarda da propriedade privada e dos privilégios da burguesia. Compõem, todos eles, a tropa de choque da elite.

Rafael Freire

25.5.07

Israel retoma bombardeios e invasões a territórios palestinos

Por volta do dia 11 do mês passado, os dois partidos que dividem o governo da Palestina, o Hamas, do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, e Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, entraram em confronto aberto devido a divergências quanto à postura do governo de coalizão em relação a Israel. Resultado: a morte de mais de 50 pessoas.

No entanto, não é aí que está o centro do conflito na região. Enquanto os dois grupos não chegam a um consenso de como alcançar o objetivo comum da criação do Estado livre palestino, o governo de Israel se aproveita da situação para bombardear o povo palestino, prender militantes e invadir territórios.

Quase que diariamente, desde o último dia 15, a Força Aérea israelense efetuou disparos de mísseis de alta precisão sobre alvos palestinos, sob o pretexto oficial de acertar bases e coibir o lançamento de mísseis do Hamas sobre o território de Israel. No entanto, as vítimas (mais de quarenta nessa nova escalada de terror) são, em geral, civis, pessoas comuns, mortas dentro de suas casas ou enquanto andavam nas ruas. O conflito pôs fim ao cessar-fogo que vigorava desde novembro de 2006.

Em reunião com altos comandantes militares, o ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, ordenou que o Exército “mantenha o ritmo ofensivo contra o Hamas, tanto em operações contra infra-estruturas terroristas, como contra comandos que se dirijam a lançar foguetes”. E ainda acrescentou: “todo mundo pode ver que a força que utilizamos atualmente é apenas uma fração das possibilidades que estão à nossa disposição”.

Para completar o quadro de arrogância israelense, na madrugada do dia 24, tropas de Israel invadiram o território palestino da Cisjordânia, e prenderam arbitrariamente 33 membros do Hamas, incluindo o ministro da Educação, Naser al Shaer, e o prefeito e o vice-prefeito da cidade de Nablus. “Por meio desta agressão, o governo israelense mais uma vez leva a região a um ciclo de violência, e assume a responsabilidade pelas conseqüências de suas ações”, declarou o porta-voz do palestino.
Nada mais imperialista do que promover a guerra contra uma outra nação mais frágil política e economicamente. Nada mais imperialista do que invadir territórios alheios visando à anexação. E nada mais fascista do que prender militantes políticos sem motivos nem prerrogativas legais. Esse é o verdadeiro conflito da região: uma nação imperialista que tenta a todo custo aniquilar o sonho de soberania de um povo oprimido.

Multinacionais e parlamentares financiam guerra na Colômbia

O líder paramilitar de extrema-direita, Salvatore Mancuso, que hoje se encontra preso, confirmou em recente depoimento à Justiça colombiana que multinacionais norte-americanas financiam a guerra na Colômbia. Mancuso citou as companhias frutíferas Chiquita, Dole, Del Monte e Drummond, além das cervejarias Bavaria e Postobón.

A Chiquita Brands International Co., uma das maiores exportadoras de banana do mundo, já havia reconhecido perante o Departamento de Justiça dos EUA ter financiado os paramilitares. Mesmo assim, a única punição sofrida pela empresa foi o pagamento de uma multa de US$ 25 milhões.

As milícias paramilitares foram criadas no começo da década de 1980, com o apoio dos latifundiários e traficantes de drogas, para conter o avanço da guerrilha de esquerda, que há mais de 40 anos luta para transformar a Colômbia num país soberano. De lá para cá, já praticaram mais de 10 mil assassinatos, além de terem tomado parte no tráfico de drogas e de terem roubado milhões de hectares de terra dos camponeses pobres.

Salvatore Mancuso, de 47 anos, era o chefe da milícia Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Pesa contra ele o assassinato de cerca de 3 mil pessoas, entre 1999 e 2004. Fato que pode levá-lo a 40 anos de prisão. Bem mais que os 8 anos acordados entre o governo fascista do presidente Álvaro Uribe e os paramilitares, em troca da deposição das armas e dos depoimentos à Justiça.

Além das multinacionais, Mancuso garante que vários integrantes do governo de Uribe também estão envolvidos. Entre eles, o vice-presidente, Francisco Santos, o ministro da defesa, Juan Manuel Santos (que são primos), e o presidente do Partido Conservador, Julio Mazur. Para completar a crise, doze deputados da base governista já estão presos por ligações comprovadas com as milícias.

Os fatos só provam que a guerra e o extermínio humano são o componente principal da política de extrema-direita que toma conta do governo colombiano há anos, e que agora, com o presidente Álvaro Uribe, chegou a níveis insustentáveis.

Em nome da democracia dos ricos, mais terror e roubo contra os camponeses pobres e o povo da Colômbia.

Rafael Freire

2.4.07

Avaliação do PAC




No início do seu segundo mandato, o presidente Lula anunciou o seu Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e agora tem movimentado sua base no Congresso para que ele seja aprovado. O plano promete “aumentar o emprego e melhorar as condições de vida da população brasileira”. Entretanto, como infelizmente sabemos, não é o governo Lula o mais indicado para falar em cumprimento de promessas.

A estratégia declarada do PAC é criar, através de investimentos públicos diretos, de incentivos fiscais e de reformas na legislação (em especial na legislação ambiental) um ambiente favorável para o investimento privado que, ainda segundo o governo, seria a chave para o crescimento econômico do país. Dessas medidas, a que mais chama a atenção e que com maior destaque aparece estampada nos jornais é a disposição do governo em gastar mais de R$ 500 bilhões de reais em 3 anos (2007 – 2010).

Entretanto, o que mais deveria nos impressionar é que grande parte desse total virá das empresas estatais. Isso nos leva a duas reflexões. A primeira é a importância decisiva das estatais para a economia brasileira. Essas mesmas estatais, operadas pelos tão injustamente difamados funcionários públicos, são agora chamadas a patrocinar quase que sozinhas as obras de infra-estrutura para que as “eficientes” empresas privadas possam prosperar. A outra questão é que essa estratégia de mobilizar as estatais não é modo algum uma novidade na política econômica brasileira. Na verdade, as estatais, desde a década de 70 e em diferentes governos, têm sido obrigadas a fornecer preços subsidiados a empresas privadas com o mesmo declarado objetivo de incentivar os investimentos. Essa política de favorecimento das empresas privadas levou muitas estatais a operarem com prejuízo. Anos depois esse prejuízo foi o principal argumento para a privatização dessas empresas. O fato desse prejuízo ter sido compulsório foi convenientemente “esquecido” pelos defensores da privatização. Espero que dessa vez Lula ou seus sucessores lembrem que esses bilhões farão falta às estatais, principalmente em seus setores de Pesquisa, Ciência e Tecnologia, e terão conseqüências no futuro.

O governo, além de “colocar a faca no pescoço” das estatais para que elas banquem o investimento privado, pretende também praticamente dobrar a renúncia fiscal, aumentando-a de R$ 6,6 bilhões para R$ 11,5 bilhões em apenas um ano (2007-2008). Como se não bastasse, há uma série de outras medidas no mínimo suspeitas como por exemplo a reforma na legislação ambiental, utilização do FGTS na composição de fundos de financiamento, “racionalização do desenho institucional” do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, reforma na lei de licitações e até uma nova reforma na previdência.

Essas medidas terão o resultado anunciado? Provavelmente não. Em primeiro lugar é preciso ter em conta que a chamada “responsabilidade social” dos empresários é uma fantasia que só existe na cabeça das pessoas que temem encarar a realidade como ela realmente é. Os empresários (entendo por empresários os grandes capitalistas) estão interessados no lucro, suas decisões são baseadas em suas expectativas de conseguir o lucro máximo. Isso é tão evidente que na verdade é espantoso alguém afiançar alguma esperança sincera na “responsabilidade social” dos empresários. Sendo assim, mesmo com todo o “ambiente favorável”, mesmo com as estatais fazendo um esforço gigantesco de financiamento, mesmo com os incentivos fiscais, etc. o empresário vai continuar investindo “seu” dinheiro onde obtiver mais lucro. E enquanto o Brasil continuar sendo o país com a maior taxa de juros do mundo, o mais lucrativo continuará sendo a aplicação na órbita financeira (especialmente nos títulos da dívida pública, mais seguros e mais lucrativos) e não o investimento produtivo.

O mais grave, entretanto, ainda não foi dito. “Para não dizer que não falei das flores”, vamos supor que os empresários deixem sua ganância de lado, saiam do mercado financeiro e realmente invistam em atividades produtivas. Mesmo considerando essa hipótese heróica, ainda assim, o PAC não trará a “melhoria nas condições de vida da população”. E aqui temos desmentir uma das maiores falácias da maioria dos comentaristas econômicos dos meios de comunicação: o crescimento econômico NÃO resolve necessariamente o problema do desemprego.

Por quê? Porque na maioria das vezes esse investimento é intensivo em capital e não em trabalho. Ou seja, os empresários para aumentarem sua produção (crescimento econômico) o fazem comprando máquinas novas, utilizando novas tecnologias que utilizam cada vez menos força de trabalho. É portanto perfeitamente possível que o crescimento econômico não seja acompanhado por um aumento significativo da demanda por trabalho. O empresário pode, e na maioria das vezes o faz, comprar uma máquina nova (quem sabe com recursos do BNDES), aumentar sua produção e ainda demitir funcionários. Essa situação fica ainda mais agravada quando se tem em mente a crescente abertura comercial brasileira e a conseqüente concorrência com os produtos importados. Não é a toa que as fases de crescimento econômico do Brasil, inclusive o “milagre brasileiro”, foram em geral acompanhadas de um aumento das desigualdades sociais.

Isso não se trata de maneira alguma de uma novidade. O governo sabe disso perfeitamente. Tanto é que no Plano Plurianual feito no início do primeiro mandato (2004) o governo colocava como centro do crescimento o fortalecimento do mercado interno que obriga de algum modo a uma maior distribuição de renda.

Em resumo, enquanto a desigualdade social brasileira não for colocada como problema central, os diferentes planos econômicos continuaram reféns da “responsabilidade social” do capitalismo que como sabemos é, na realidade, negativa. É preciso, portanto, um maior controle social sobre a economia. Rever as privatizações fraudulentas, diminuir o enorme poder do capital especulativo internacional, realizar as reformas agrária e urbana, enfim, fazer com que a economia trabalhe para o benefício dos trabalhadores e não para o enriquecimento de meia dúzia de especuladores.


Humberto Lima

26.2.07

A guerra da Besta e as bestialidades da guerra


Como se não bastasse o genocídio organizado pelo imperialismo norte-americano contra o povo do Iraque, o qual, oficialmente, se aproxima das 50 mil mortes, os agentes diretos desse crime, os tão enaltecidos soldados yankees, cometem, à surdina, toda uma variedade de bestialidades.

Em março de 2006, os soldados Steven Green, James Barker e Paul Cortez praticaram, de forma premeditada, o assassinato de uma família iraquiana, seguido do estupro de sua filha mais velha, a jovem Abeer Qassim Al Janabi, de apenas 14 anos.

O caso voltou à tona neste mês de fevereiro, porque o soldado Paul Cortez, que agora enfrentou julgamento, revelou em seus depoimentos, com detalhes, como os três planejaram o crime. “Sabíamos que só havia um homem na casa, e que seria um alvo fácil”.

Segundo Cortez, assim que invadiram a casa das vítimas, o soldado Green levou o pai, a mãe e a irmãzinha da garota para um quarto e os executou a tiros. "Durante o tempo em que eu e Barker ficamos estuprando Abeer, ouvi cinco ou seis tiros vindos do quarto. Green saiu do quarto e disse que tinha matado todos eles, que todos estavam mortos. Green então se colocou entre as pernas de Abeer para estuprá-la. Ela ficou se contorcendo, tentando manter as pernas fechadas e dizendo coisas em árabe".

Toda a ação durou cerca de cinco minutos. Então executaram também a menina e atearam fogo em seu corpo, na tentativa de esconder o estupro.

O soldado Green, líder da ação, foi condenado no final do ano passado a 90 anos de detenção num presídio militar. O soldado Barker foi exonerado do exército e aguarda julgamento numa prisão civil. Já o soldado Paul Cortez foi condenado a 100 anos, mas, pelas leis norte-americanos e por um acordo feito no tribunal, pode estar em liberdade condicional dentro de 10 anos.

Contudo, nenhuma condenação apagará mais este episódio bestial. A guerra da Besta norte-americana é, segundo eles dizem, para estabelecer a justiça e democracia no Iraque. Logo vemos que tipo de justiça e democracia eles querem estabelecer. Aquela baseada na violência, no genocídio, nos assassinatos cruéis. Na violência sexual, moral e psicológica. Na violência cultural e econômica. No roubou escancarado das riquezas do Iraque. No extermínio dos obstáculos à dominação mundial do representante maior do capitalismo atual.

Mas a Besta está cambaleante, encurralada, e a outra besta que a preside, quer agora enviar mais soldados (ou seria mais estupradores?), mais armamento, mais dinheiro, para prosseguir com sua guerra insana. Os fatos têm provado, no entanto, que quanto mais eles investem na guerra, mais a guerra investe contra eles.

Rafael Freire

25.2.07

Harry, o nazista


O Ministério da Defesa da Inglaterra informou que o príncipe Harry será enviado ao Iraque. Harry é o segundo filho do príncipe Charles com a princesa Diana. Ele é conhecido pelas farras que promove, sempre com muita bebida e drogas, às custas do dinheiro público. Em 2005, em uma dessas festas, apareceu fantasiado com um uniforme nazista, com a suástica na braçadeira.

Esse ato é uma prova não apenas de ignorância política como também um profundo desrespeito pelo povo da Inglaterra. Durante a II Guerra Mundial, a Inglaterra foi brutalmente bombardeada por Hitler que só não a invadiu porque “ele não se atreveria a concentrar suas forças na conquista da Inglaterra, enquanto no palco continuasse presente o Exército Vermelho”, nas palavras do historiador inglês Liddel Hart. Durante o conflito 300 mil ingleses morreram.

Agora, não satisfeito apenas com a fantasia, o príncipe Harry pretende tornar realidade seu sonho nazista. Para alguns, essa é uma última tentativa de conseguir algum apoio popular à guerra. Como todas as outras tentativas anteriores, essa também deverá ser inútil. A invasão ao Iraque é cada vez mais vista pelo mundo como o que ela realmente é: uma guerra imperialista e covarde, organizada por uma quadrilha de empresas bélicas e petrolíferas, com o único interesse de se apoderar das riquezas iraquianas. Além disso, a brava resistência iraquiana já expulsou do Iraque vários países, entre eles a Itália e a Espanha. A própria Inglaterra, que no início da invasão tinha mais de 30 mil soldados no Iraque, hoje tem apenas 6 mil e o governo inglês já anunciou que pretende retirar todas as suas tropas.

Em um gesto de hipocrisia sem tamanho, Harry declarou que “não poderia ficar sentado em casa enquanto meus amigos lutam por nosso país”. Mentira! Harry vai ser escoltado, dia e noite, pela SAS, a força de elite, mais bem treinada e equipada, do exército britânico e os próprios comandantes já admitem que ele pode voltar mais cedo para casa. Ou seja, Harry vai ficar escondido em algum buraco blindado enquanto os soldados britânicos praticam todos os tipos de crimes de guerra contra o povo iraquiano.

Cada diamante da família real inglesa foi roubado às custas de milhares de vidas humanas. Cada jóia da Coroa traz a marca do sofrimento e das atrocidades que o imperialismo inglês cometeu em todos os continentes do mundo. O luxo e a pompa dos palácios ingleses é financiado com a fome e as humilhações que sofreram e ainda sofrem populações inteiras. O imperialismo inglês roubou as riquezas e escravizou o continente africano por séculos. Ao sair, deixou como lembrança de sua bestialidade milhares de minas terrestres que ainda mutilam crianças diariamente. Harry, o nazista, ao decidir unir-se ao fascismo, não faz nada mais que seguir a tradição de sua decadente e vergonhosa família.

Humberto Lima

15.2.07

O Labirinto do Fauno – Retrato da Violência Fascista na Espanha de 1944


Muitos sítios sobre cinema classificaram O Labirinto do Fauno como um filme de horror, suspense ou fantasia. O filme é surreal sim mas, aprofundando um pouco mais o olhar, a temática central de O Labirinto trata, de maneira sutilmente poética, de uma das mais violentas e sanguinárias ditaduras fascistas que assolaram o mundo no século XX: a ditadura de Franco, na Espanha. O golpe da aliança burguesa Falange sobre o grupo socialista Frente Popular, vencedor das eleições em 1936, deu início à Guerra Civil Espanhola, que deixou um saldo de mais de 1 milhão de mortos e culminou na tomada do poder pelo general Francisco Franco, em 1939.

Ambientado nas montanhas de Navarra, na Espanha de 1944, o filme usa a fantasia para evidenciar a fragilidade das reações humanas em situações extremas, a realidade “criada” versus a realidade “real”: o mundo mágico da menina Ofelia (lvana Barquero) – onde aparecem fadas, o Fauno e até um grotesco ser que vê através dos olhos que tem nas mãos (Doug Jones, também intérprete do Fauno) – e o mundo real onde um capitão fascista e seu regimento tentam eliminar um dos focos da resistência camponesa.

Ofelia é uma doce menina que cria um mundo imaginário para fugir das mazelas da realidade. Seu mundo é cercado de uma “fantasia simbólica”, em que um fauno promete transformá-la na princesa de seu reino subterrâneo se ela for capaz de realizar três tarefas, testando-a ao ponto de colocar-lhe em risco a vida. A menina, de uma tristeza singular – cumprimentos à pequena atriz –, é o perfeito reflexo da inocência, das tantas inocências roubadas pelos fascistas e seus ideais de poder. Outro destaque é Mercedes (Maribel Verdú), cozinheira do capitão fascista Vidal (Sergi López) e amiga de Ofelia. Mercedes é informante dos guerrilheiros e consegue dar o exato tom da dramaticidade de O Labirinto: é a protagonista da cena mais marcante do filme em que ela, inesperadamente, reage à iminente tortura que o Capitão Vidal lhe prepara – num momento absolutamente empolgante que arranca gritos eufóricos da platéia. Essa cena, aliás, faz par com outra de igual importância que acontece no mundo imaginário de Ofelia.

As duas cenas conseguem traduzir com méritos o argumento do filme. A tortura de Mercedes é confrontada com o acontecimento mais horripilante do mundo subterrâneo – o jantar cujo anfitrião é o “homem pálido”, aquele dos olhos nas mãos –, responsável por externar em Ofelia toda a coragem e sagacidade necessárias para que conseguisse se livrar do terrível monstro. Mercedes, à iminência da tortura, teve que encontrar em si, tal como Ofelia, as mesmas coragem e sagacidade que a livrariam do capitão fascista que estava por torturá-la – este não menos monstro que aquele. Nesse momento, o espectador se questiona sobre qual seria a “realidade” mais terrível, seguramente concluindo, como Ofelia, que o mundo real pode ser bem pior.

Visualmente extraordinário, o filme demonstra beleza e poesia em cada minúcia, nas cenas, nos símbolos ou mesmo nas criaturas do mundo-fantasia. Ponto para o diretor e roteirista Guillermo del Toro, que com um orçamento de apenas US$ 5 milhões (irrisório frente aos padrões americanos) conseguiu produzir um filme incrivelmente original e envolvente. Ponto também para a encantadora fotografia de Guillermo Navarro e as belíssimas criações de figurino e maquiagem de Lala Huete e Eugenio Caballero, incluindo aí a estética do “homem pálido”, um dos seres mais criativamente bizarros já vistos no cinema. Mas o ápice é mesmo o roteiro de Del Toro, que conta a história com emocionante brilhantismo e deixa ainda, de quebra, duas ou três frases emblemáticas, de sonoridade revolucionária. Numa delas, o médico do regimento – também informante da guerrilha (Álex Angulo) –, questionado pelo Capitão Vidal sobre não ter obedecido à sua ordem de manter vivo um guerrilheiro que fora cruelmente torturado (o médico, a pedido do rapaz, aplicara-lhe uma injeção letal), desafia-o com os dizeres: “Obedecer por obedecer, sem pensar, somente o senhor o faz, Capitão!”.

Dos filmes lançados no início de 2007, O Labirinto do Fauno foi, sem dúvida, a salvação dos cinéfilos, insinuando-se já como um dos melhores filmes do ano. Em Recife infelizmente não entrou em cartaz nos grandes cinemas, tendo sido exibido somente no Cinema da Fundação – restringindo assim o acesso à obra. Uma pena, pois a bela criação de Del Toro é realmente imperdível.


Título Original: El Laberinto del Fauno
Duração: 112 minutos
Lançamento (México / Espanha / EUA): 2006
Sítio Oficial: www.panslabyrinth.com
Direção e roteiro: Guillermo del Toro



Pricylla Girão
(MSN: pricyllagirao@hotmail.com )


12.1.07

Estamos com Chávez e com o povo da Venezuela!


Depois de ser reeleito com uma vitória incontestável, Hugo Chávez anuncia o surgimento de uma nova república socialista: a República Socialista da Venezuela. Como não poderia deixar de ser, a imprensa conservadora do Brasil e do mundo não tem poupado Chávez de seus clichês e preconceitos anticomunistas.


Dizem que Chávez é contra a liberdade de expressão. Mas não falam que as empresas de rádio e TV privadas da Venezuela não têm moral para falar de liberdade nem de democracia pois deram total e irrestrito apoio ao golpe de Estado organizado pelos Estados Unidos em 2002. Dizem que Chávez é um ditador, mas não dizem que ele venceu todas as eleições que disputou e que a Constituição da Venezuela é mais democrática de todas, pois foi aprovada em plebiscito com o voto de todos os cidadãos. Acusam Chávez de querer se manter indefinidamente no poder quando na verdade uma das marcas de seu governo é justamente retirar do poder as máfias que há décadas lucram milhões com a corrupção do dinheiro público. Anunciam o “socialismo do século XXI” como sendo algo esdrúxulo e fantasioso. Entretanto, vivemos no século XXI e esdrúxulo seria se Chávez quisesse implantar o socialismo em um século que já acabou.


A verdade é que essa imprensa conservadora e a burguesia mundial fizeram um grande esforço para acreditar numa mentira que eles mesmo inventaram: de que o socialismo havia acabado. Achavam que com o exemplo do fim da União Soviética, com o controle dos grandes meios de comunicação e com eleições subordinadas ao poder financeiro, estavam garantidos. Erraram! Para quem tem hoje entre 15 e 25 anos o fim da URSS não teve o mesmo impacto que para os velhos pseudo-comunistas que arriaram suas bandeiras no começo da década de 90 e o poder financeiro não pode esconder indefinidamente a injustiça e a exploração que o capitalismo faz sentir na pele todos os dias.


Chávez está certo. Organiza a economia para que suas riquezas sejam usadas para o bem do povo. Investe maciçamente em educação e saúde. Chama o povo para participar ativa e conscientemente da vida política do país. Um aula de democracia para qualquer tecnocrata com nojo do povo que defende uma democracia de fachada nos moldes dos EUA, onde dois partidos quase iguais se revezam no poder e as eleições são inacessíveis para um cidadão comum.


Se Chávez e o povo venezuelano vão conseguir seus objetivos, ainda não podemos afirmar. Os desafios são muitos e a pressão será cada vez maior. Os EUA falam já abertamente que é preciso “rediscutir o conceito de soberania”. Mas são inegáveis os avanços que foram conseguidos nessa última década. Neoliberalismo, privatizações e outras coisas - que fizeram o lucro dos grandes monopólios internacionais e a miséria dos trabalhadores - são hoje rechaçados pelo povo em todos os países, inclusive o Brasil. Ventos novos e livres começam a soprar em todos os cantos do mundo, e hoje, principalmente na Venezuela.


Recentemente, foi reaberto em Moscou, após dois meses de reformas, o
mausoléu onde está o corpo de Lênin. Algumas pessoas que visitaram o local repararam que havia uma coisa diferente: disseram que Lênin parecia estar sorrindo...


Humberto Lima

29.12.06

O Natal para além de Cristo


Neste período de final de ano, é comum, e já se tornou banal até, falar sobre o verdadeiro significado do Natal. Se ele está descaracterizado ou não. Se o consumismo já consumiu o espírito de irmandade dos homens. Se Papai Noel é mais conhecido entre as crianças do que Cristo.

O Natal é, em essência, uma festa cristã. Nele se celebra o nascimento de Jesus Cristo, o Deus-menino, salvador dos homens na Terra. Porém, como na História nem tudo é preciso, residem inúmeros questionamentos acerca da data de 25 de dezembro. Alguns falam em outros dias, de outros meses, de outros anos. Diz-se, inclusive, que a trajetória de José e Maria em fuga da crueldade de Herodes, que buscava a criança redentora, é, na verdade, a representação da fuga do profeta Moisés, também quando de seu nascimento. Jesus nasceu judeu e virou Emanuel: Deus entre nós. Quando chegou a Nazaré, tornou-se o Nazareno, onde pregou por toda a Galiléia, criando o cristianismo.

Nem todos os seres humanos são cristãos. O cristianismo, apesar de ser a religião que possui o maior número de seguidores (cerca de 2,1 bilhões), corresponde a menos de um terço da atual população mundial, estimada em quase 7 bilhões de pessoas. No entanto, é comum ver em reportagens e declarações as mais diversas a generalização do cristianismo como elemento cultural de toda a humanidade. Sendo assim, é preciso ter cuidado ao tratar do assunto, mesmo que se tome como referência o Brasil, país eminentemente cristão e considerado o maior país católico do mundo.

A Constituição Federal de 1988 garante que o Estado brasileiro é laico, ou seja, não advoga nenhuma religião. Na prática, porém, a coisa é bem diferente, dado o enraizado do cristianismo na cultura nacional. Só para ficar num exemplo bem simples, consta no artigo 87 do Regimento Interno da Câmara Municipal de João Pessoa que, ao início de cada sessão, o vereador que a preside “convidará um vereador para, da Tribuna, fazer leitura do texto Bíblico, devendo a Bíblia Sagrada ficar em cima da mesa durante todo o tempo da sessão”.

Religião e Estado têm sido usados, ao longo das diversas formações sociais já construídas, como instrumentos de dominação de povos e classes. Mas pode servir ao seu contrário também, com o propósito de libertação, como mostra Engels, no fechamento de sua introdução para “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”, de Marx, reproduzido logo abaixo.

Cabe, portanto, independente de concepção filosófico-religiosa, valer-se do espírito natalino original de irmandade e renovação para refletir e transformar o mundo em que vivemos. Transformar nossas tão profundas diferenças políticas, econômicas, tecnológicas e sociais.

Feliz ano novo, para quem do novo precisa!
Rafael Freire

Friedrich Engels: fechamento de sua introdução para “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”, de Karl Marx


“Há quase 1.600 anos, precisamente, atuava também no Império Romano um perigoso partido revolucionário. Ele socavava a religião e todos os alicerces do Estado. Negava redondamente que a vontade do imperador fosse a lei suprema. Não tinha pátria. Era internacional. Estendia-se a todo o Império, das Gálias à Ásia. Ultrapassava as fronteiras imperiais. De há muito, realizava um trabalho de sapa subterrâneo e secreto. Há bastante tempo, porém, considerava-se suficientemente forte para surgir à luz do dia. Esse partido revolucionário, que era conhecido em toda a parte com o nome de cristão, estava também fortemente representado no exército. Legiões inteiras eram cristãs. Quando recebiam ordem de comparecer aos sacrifícios solenes da igreja pagã nacional, para participar das honrarias, os soldados revolucionários levavam sua insolência ao ponto de prender em seus capacetes distintivos especiais - cruzes – em sinal de protesto. Mesmo as costumeiras medidas preventivas tomadas pelos superiores nas casernas revelavam-se inúteis. Vendo como se derrocava a ordem, a obediência e a disciplina em seu exército, o imperador Diocleciano não pôde conservar por muito tempo a calma. Interveio energicamente, pois ainda era tempo. Promulgou um lei contra os socialistas, quero dizer, contra os cristãos. As reuniões dos revolucionários foram proibidas, suas sedes fechadas, ou mesmo demolidas, as insígnias cristãs – cruzes, etc. – interditadas, tal como na Saxônia os lenços vermelhos. Os cristãos foram declarados incapacitados para os cargos públicos, não podendo sequer chegar a cabos. Como, na época, ainda não se dispunha de juízes tão bem amestrados no “respeito ao indivíduo”, como os que pressupõe o projeto de lei contra a revolução, de autoria de Herr von Koeller, proibiu-se pura e simplesmente que os cristãos recorressem aos tribunais. Esta lei de exceção também não teve efeito. Num acinte, os cristãos a arrancaram dos muro, e diz-se mesmo que, em Nicomédia, queimaram o palácio em que se encontrava o imperador. Este vingou-se, então, desencadeando a grande perseguição aos cristãos, do ano de 303 de nossa era. Foi a última de seu gênero. E revelou-se tão eficaz que, dezessete anos depois, o exército se compunha, sobretudo, de cristãos, e o novo autocrata do Império Romano que sucedeu a Diocleciano, Constantino, que os curas cognominam o Grande, proclamou o cristianismo religião de Estado.”

23.12.06

Mais dois sem-terra assassinados pelos latifundiários

No dia 17 de dezembro, o jovem Andreílson Santos Silva, de apenas 17 anos, foi assassinado a facadas em uma emboscada na cidade de Garanhuns, no interior de Pernambuco. Andreílson era integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). O crime aconteceu na Fazenda Paulista, de 1.360 hectares, cujo proprietário, Edvaldo Rodrigues Paixão, é acusado de forjar e corromper técnicos para falsificar certificados de produtividade da fazenda. Diante das denúncias, o Incra prometeu fazer uma nova avaliação, o que até agora não ocorreu. Desde 2004, essa fazenda já foi ocupada duas vezes, sendo que em todas os despejos foram violentos. No último deles, o Incra firmou um acordo para que os trabalhadores pudessem retornar para colher a produção que haviam plantado no local, mas o proprietário destruiu a lavoura. No mês passado, o Ministério Público determinou que o latifundiário pagasse uma indenização pela destruição. Desde então, as ameaças aos trabalhadores, que estão acampados na BR-423, têm sido constantes.

No dia 20 de dezembro, três dias após o assassinato de Andreílson, outro trabalhador rural foi assassinado pelos latifundiários. O trabalhador José Gomes, de 55 anos, foi morto a tiros no Engenho Natal, no município de Aliança, também no interior de Pernambuco. O Engenho Natal é um dos 22 engenhos que pertenciam à Usina Aliança que faliu em 1996. Ao todo são 7.300 hectares de terra. A dívida da Usina em direitos trabalhistas é de mais de R$ 250 milhões, e os trabalhadores reivindicam que a terra seja desapropriada para o pagamento da dívida. O Engenho Natal é um dos cinco que já foram desapropriados. Mesmo assim, segundo testemunhas, quatro homens encapuzados, e fortemente armados, invadiram o Engenho, às 21h, à procura das lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os assassinos atearam fogo em uma casa e balearam José Gomes em sua residência.

Infelizmente, os assassinatos de Andreílson Santos e José Gomes estão longe de serem casos isolados. De 2000 a 2005, 223 trabalhadores foram assassinados na luta pela terra no Brasil. Entretanto, mesmo submetidos a essa constante e mortal perseguição, os sem-terra são apresentados pela grande mídia como vândalos, baderneiros e, o cúmulo da mentira, como os responsáveis pela violência no campo. Enquanto isso, os latifundiários formam verdadeiros exércitos particulares e grupos de extermínio para intimidar qualquer trabalhador que organize a luta para que seus direitos sejam garantidos. E não é só isso. Apenas em 2005, foram libertados pelo Ministério do Trabalho nada menos de 4.133 pessoas que viviam em condições de escravidão em grandes fazendas do interior do Brasil. E esse número só não é maior porque foram feitas apenas 81 (menos de sete por mês) operações em todo o território nacional. O próprio governo federal admite a existência de pelo menos 25 mil trabalhadores escravizados no Brasil.

O que acontece é que a distribuição de terras no em nosso país é uma das mais injustas do mundo, e isso não tem a ver com a competência ou o esforço dos proprietários de terra no Brasil. A grande maioria dessas terras em disputa foram conseguidas pela grilagem, ou mesmo pela doação pura e simples aos simpatizantes dos governos autoritários brasileiros, como na Ditadura Militar, por exemplo. Sem o movimento dos sem-terra, o que existe no campo não é paz, mas sim medo, ignorância e submissão. São cidadãos brasileiros explorados há séculos que finalmente se levantam, se enchem de auto-estima e dignidade, vão à luta para defender seus direitos... e devem contar com nosso apoio.

Humberto Lima

*Para ver reportagem sobre o assassinato de Andreílson, acesse:

www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u87873.shtml

*Para ver reportagem sobre o assassinato de José Gomes, acesse:

www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u88009.shtml

*Para ver a relação das pessoas assassinadas na luta pela terra, acesse:

www.mst.org.br/mst/listagem.php?sc=9&p=3

*Para ver reportagem sobre o trabalho escravo no Brasil, acesse:

jornalaverdade.sites.uol.com.br/link/unido.html

17.12.06

Maioria dos russos quer a volta da União Soviética


“Com o fim da União Soviética minha vida desmoronou. Antes eu vivia bem, podia sair de férias, podia passear nas montanhas. Hoje, não posso nem visitar meu irmão em outra cidade”. Essa declaração, do Sr. Evgueni, 49 anos, trabalhador da limpeza urbana de Moscou, mostra bem o sentimento da maioria dos russos em relação ao fim da URSS.

Em pesquisa realizada neste mês pelo Instituto Levada de Moscou, 61% dos russos querem a volta da União Soviética. Na verdade, esse desejo é muito mais que um sentimento saudosista, pois outra pesquisa da WPO revela que nada menos 85% dos russos são favoráveis a reestatização das várias das empresas privatizadas, principalmente do setor energético/petrolífero.

Passados 15 anos do golpe que derrubou a URSS, a população percebe claramente a drástica queda em seu padrão de vida e sofre na pele as conseqüências do regresso ao capitalismo. As promessas de mais desenvolvimento e liberdade feitas pelos defensores do capitalismo hoje estão completamente desmoralizadas. Em 2002, mais de um terço (36,2%) da população economicamente ativa estava desempregada, e a Rússia era, ao lado dos EUA, o país com o maior número de presidiários (7,3 por mil habitantes). Apesar de nos faltar uma pesquisa mais recente é muito pouco provável que tenha havido uma mudança significativa nesses números.

De uma nação soberana e admirada por todo o mundo, a Rússia tornou-se um país governado por máfias que se apoderaram primeiro do Partido Comunista e depois de todo o Estado, e o transformaram em uma máquina de enriquecimento pessoal.

Diante de tudo isso, a aposentada russa, Natalia Kokoreva, 60 anos, resume bem o que pensam os russos: “Não temos nada o que comemorar”.
Humberto Lima
Para ler sobre a pesquisa do Instituto Levada acesse:
news.yahoo.com/s/afp/20061208/lf_afp/russiaussranniversary_061208201505
Para ver a pesquisa do WPO (World Public Opinion) acesse:
Para ler sobre o desemprego na Rússia acesse:
www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u39171.shtml

30.11.06

No dos outros...


O malufista e ultra-reacionário cantor e vereador de São Paulo, Agnaldo Timóteo, teve o filho preso por desacato à autoridade. Agnaldo, indignado, disse que a polícia agiu com truculência e que os policiais forjaram a cena do desacato.

Agnaldo, entre outras coisas, é conhecido por defender as ações fascistas da polícia de São Paulo e de outros estados. Diz que a polícia agiu "corretamente no exercício do seu dever" nos Massacres de Eldorado dos Carajás e do Carandiru. Adora falar mal dos movimentos sociais e não perde a chance de pregar que a criminalidade só pode ser resolvida com mais violência e repressão. Sobre a censura durante a Ditadura Militar ele tem a seguinte opinião: “No Brasil não houve ditadura. Todas as pessoas que respeitaram o poder constituído dos militares não sofreram nenhum tipo de restrição. Alguém prendeu Roberto Carlos? Se faz música esculachando tem que vetar e colocar para fora mesmo.” (Revista AOL. Março de 2005)

Agora, irritadíssimo com a prisão do filho, Agnaldo diz: "Deram uma gravata no moleque, jogaram o moleque no chão, colocaram os pés no pescoço dele e, pior, rasgaram a camisa para parecer que tinham sido agredido ... eles também foram truculentos comigo, que sou vereador".

É Agnaldo... como diz o ditado: pimenta no dos outros é refresco.
Humberto Lima
Para ver a matéria sobre a prisão do filho de Agnaldo, acesse: www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u128714.shtml
Para ver a sua entrevista à Revista AOL, acesse: www.aol.com.br/revista/materias/2005/0048.adp

25.11.06

Sebastião Salgado: luz e sombra num mundo de contrastes


Nenhum fotógrafo contemporâneo conseguiu expressar tão bem os contrastes sociais do mundo capitalista quanto o brasileiro Sebastião Salgado.

O princípio elementar da fotografia é o registro da luz numa superfície. Contudo, o princípio elementar de uma grande foto não está em “saber clicar”, como ensina o próprio Salgado: “A fotografia não é feita pelo fotógrafo. A foto sai melhor ou pior de acordo com a relação entre o fotógrafo e a pessoa que fotografa”.

E é assim, com um profundo senso de humanismo, calcado por um compreensão marxista da realidade, aliado a muita simplicidade, que Sebastião Salgado consegue se diferenciar dos demais fotógrafos, fugindo da pretensa impessoalidade de certas correntes do (foto)jornalismo: “Fotografa-se com toda carga ideológica”, diz ele.

Nascido em 1944, na cidade mineira de Aymorés, Sebastião Salgado é economista com doutorado pela Universidade de Paris, tendo atuado na profissão só até os trinta nos, quando, então, decidiu se dedicar totalmente à fotografia.

Fotógrafo reconhecido internacionalmente, recebeu praticamente todos os principais prêmios de fotografia do mundo. Trabalhou para as agências Sygma entre 1974 e 1975, para a agência Gamma de 1975 a 1979, e depois foi eleito membro da Magnum Photos, uma cooperativa internacional de fotógrafos, onde permaneceu de 1979 a 1994. Neste mesmo ano, fundou sua própria agência, a Amazonas Image.

Como fotojornalista, cobriu acontecimentos como as guerras em Angola e no Saara espanhol, o seqüestro de israelitas em Entebbe e o atentado contra o presidente norte-americano Ronald Reagan. Paralelamente passou a se dedicar a projetos de documentários mais elaborados e pessoais, que somam hoje mais de dez publicações. Entre elas, pode-se destacar Outras Américas (1986), um estudo das diferentes culturas da população rural e da resistência cultural dos índios e de seus descendentes no México e no Brasil, realizado durante oito anos. Sahel: O Homem em Pânico (1986), um documento sobre a dignidade e a perseverança de pessoas nas mais extremas condições de existência, em que trabalhou 15 meses com o grupo francês Médicos Sem Fronteiras, durante a seca na região do Sahel, no Norte da África. Trabalhadores (1993), um documentário fotográfico sobre o fim do trabalho manual em grande escala, fotografado em 26 países e resultado de sete anos de registros. Terra: Luta dos Sem-Terra (1997), sobre a luta pela terra no Brasil, centrado nos acampamentos e assentamentos do MST. E Êxodos e Crianças (2000), que retrata a vida de retirantes, refugiados e migrantes de 41 países.

No texto de apresentação deste último trabalho Salgado escreveu: “Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constróem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas”.
Gênesis: uma nova face do artista
Em seu mais recente trabalho, Gênesis (2006), Sebastião Salgado revela uma nova face. Nele, apresenta uma parte do planeta ainda não ameaçada pelo descuido do homem e pela degradação capitalista. Aqui se pode enxergar o florescimento de uma biodiversidade, algo que remete a um passado distante, quando existia um equilíbrio ecológico.

Gênesis é, na verdade, muito mais que uma peça artística. É um projeto educacional que visa conscientizar crianças, jovens e adultos para a preservação ambiental. A primeira fase do projeto (prevista para durar oito anos) foi lançada em abril deste ano para cerca de 100 escolas de Vitória, capital do Espírito Santo e, neste último mês de novembro, foi lançada internacionalmente com uma exposição itinerante.

Com as fotos de lugares raros e animais exóticos de regiões como a Patagônia, as Ilhas Galápagos, a Antártida e as selvas africanas, Sebastião Salgado pretende levar pelo mundo a mensagem viva dos seres da Terra como alerta para que a salvemos.

*Página oficial na internet: www.sebastiaosalgado.com.br
*Para conhecer o novo trabalho de Salgado:
Rafael Freire

35 milhões de norte-americanos passam fome


Um estudo do Departamento de Agricultura dos EUA revelou que 35 milhões de norte-americanos (12% do total da população) têm sérias dificuldades financeiras para comprar comida. Segundo o estudo, esses americanos vivem com “segurança alimentar muito baixa” e se viram obrigados a “reduzir a quantidade de alimento consumida ou deixar de fazer uma ou mais refeições por dia”. Para amenizar o impacto negativo desse levantamento na opinião pública, seu anúncio só foi feito após as eleições parlamentares nos EUA e a palavra “fome”, que era usada em todos os estudos dos anos anteriores, foi substituída por esse eufemismo de “baixa segurança alimentar”. Para a organização que combate a fome nos EUA, Bread for the World, “a idéia de remover a palavra fome de nossos informes oficiais é um enorme desserviço aos milhões de americanos que lutam diariamente para se alimentar. Não podemos esconder a realidade.”

Aumentou também a desigualdade social nos EUA. O salário mínimo não sobe desde 1996 e a renda dos mais pobres subiu apenas 3% entre 1989 e 2006, enquanto que a dos mais ricos subiu 42% e a dos milionários (1% da população) subiu 75% nesse mesmo período.


Humberto Lima

A íntegra da pesquisa sobre a fome nos EUA pode ser encontrada no site www.ers.usda.gov/publications/err29