29.12.06

Friedrich Engels: fechamento de sua introdução para “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”, de Karl Marx


“Há quase 1.600 anos, precisamente, atuava também no Império Romano um perigoso partido revolucionário. Ele socavava a religião e todos os alicerces do Estado. Negava redondamente que a vontade do imperador fosse a lei suprema. Não tinha pátria. Era internacional. Estendia-se a todo o Império, das Gálias à Ásia. Ultrapassava as fronteiras imperiais. De há muito, realizava um trabalho de sapa subterrâneo e secreto. Há bastante tempo, porém, considerava-se suficientemente forte para surgir à luz do dia. Esse partido revolucionário, que era conhecido em toda a parte com o nome de cristão, estava também fortemente representado no exército. Legiões inteiras eram cristãs. Quando recebiam ordem de comparecer aos sacrifícios solenes da igreja pagã nacional, para participar das honrarias, os soldados revolucionários levavam sua insolência ao ponto de prender em seus capacetes distintivos especiais - cruzes – em sinal de protesto. Mesmo as costumeiras medidas preventivas tomadas pelos superiores nas casernas revelavam-se inúteis. Vendo como se derrocava a ordem, a obediência e a disciplina em seu exército, o imperador Diocleciano não pôde conservar por muito tempo a calma. Interveio energicamente, pois ainda era tempo. Promulgou um lei contra os socialistas, quero dizer, contra os cristãos. As reuniões dos revolucionários foram proibidas, suas sedes fechadas, ou mesmo demolidas, as insígnias cristãs – cruzes, etc. – interditadas, tal como na Saxônia os lenços vermelhos. Os cristãos foram declarados incapacitados para os cargos públicos, não podendo sequer chegar a cabos. Como, na época, ainda não se dispunha de juízes tão bem amestrados no “respeito ao indivíduo”, como os que pressupõe o projeto de lei contra a revolução, de autoria de Herr von Koeller, proibiu-se pura e simplesmente que os cristãos recorressem aos tribunais. Esta lei de exceção também não teve efeito. Num acinte, os cristãos a arrancaram dos muro, e diz-se mesmo que, em Nicomédia, queimaram o palácio em que se encontrava o imperador. Este vingou-se, então, desencadeando a grande perseguição aos cristãos, do ano de 303 de nossa era. Foi a última de seu gênero. E revelou-se tão eficaz que, dezessete anos depois, o exército se compunha, sobretudo, de cristãos, e o novo autocrata do Império Romano que sucedeu a Diocleciano, Constantino, que os curas cognominam o Grande, proclamou o cristianismo religião de Estado.”

Um comentário:

Humberto Lima disse...

Esse texto de Engels é muioto bom mesmo. Ótima lembrança Rafael