26.2.07

A guerra da Besta e as bestialidades da guerra


Como se não bastasse o genocídio organizado pelo imperialismo norte-americano contra o povo do Iraque, o qual, oficialmente, se aproxima das 50 mil mortes, os agentes diretos desse crime, os tão enaltecidos soldados yankees, cometem, à surdina, toda uma variedade de bestialidades.

Em março de 2006, os soldados Steven Green, James Barker e Paul Cortez praticaram, de forma premeditada, o assassinato de uma família iraquiana, seguido do estupro de sua filha mais velha, a jovem Abeer Qassim Al Janabi, de apenas 14 anos.

O caso voltou à tona neste mês de fevereiro, porque o soldado Paul Cortez, que agora enfrentou julgamento, revelou em seus depoimentos, com detalhes, como os três planejaram o crime. “Sabíamos que só havia um homem na casa, e que seria um alvo fácil”.

Segundo Cortez, assim que invadiram a casa das vítimas, o soldado Green levou o pai, a mãe e a irmãzinha da garota para um quarto e os executou a tiros. "Durante o tempo em que eu e Barker ficamos estuprando Abeer, ouvi cinco ou seis tiros vindos do quarto. Green saiu do quarto e disse que tinha matado todos eles, que todos estavam mortos. Green então se colocou entre as pernas de Abeer para estuprá-la. Ela ficou se contorcendo, tentando manter as pernas fechadas e dizendo coisas em árabe".

Toda a ação durou cerca de cinco minutos. Então executaram também a menina e atearam fogo em seu corpo, na tentativa de esconder o estupro.

O soldado Green, líder da ação, foi condenado no final do ano passado a 90 anos de detenção num presídio militar. O soldado Barker foi exonerado do exército e aguarda julgamento numa prisão civil. Já o soldado Paul Cortez foi condenado a 100 anos, mas, pelas leis norte-americanos e por um acordo feito no tribunal, pode estar em liberdade condicional dentro de 10 anos.

Contudo, nenhuma condenação apagará mais este episódio bestial. A guerra da Besta norte-americana é, segundo eles dizem, para estabelecer a justiça e democracia no Iraque. Logo vemos que tipo de justiça e democracia eles querem estabelecer. Aquela baseada na violência, no genocídio, nos assassinatos cruéis. Na violência sexual, moral e psicológica. Na violência cultural e econômica. No roubou escancarado das riquezas do Iraque. No extermínio dos obstáculos à dominação mundial do representante maior do capitalismo atual.

Mas a Besta está cambaleante, encurralada, e a outra besta que a preside, quer agora enviar mais soldados (ou seria mais estupradores?), mais armamento, mais dinheiro, para prosseguir com sua guerra insana. Os fatos têm provado, no entanto, que quanto mais eles investem na guerra, mais a guerra investe contra eles.

Rafael Freire

25.2.07

Harry, o nazista


O Ministério da Defesa da Inglaterra informou que o príncipe Harry será enviado ao Iraque. Harry é o segundo filho do príncipe Charles com a princesa Diana. Ele é conhecido pelas farras que promove, sempre com muita bebida e drogas, às custas do dinheiro público. Em 2005, em uma dessas festas, apareceu fantasiado com um uniforme nazista, com a suástica na braçadeira.

Esse ato é uma prova não apenas de ignorância política como também um profundo desrespeito pelo povo da Inglaterra. Durante a II Guerra Mundial, a Inglaterra foi brutalmente bombardeada por Hitler que só não a invadiu porque “ele não se atreveria a concentrar suas forças na conquista da Inglaterra, enquanto no palco continuasse presente o Exército Vermelho”, nas palavras do historiador inglês Liddel Hart. Durante o conflito 300 mil ingleses morreram.

Agora, não satisfeito apenas com a fantasia, o príncipe Harry pretende tornar realidade seu sonho nazista. Para alguns, essa é uma última tentativa de conseguir algum apoio popular à guerra. Como todas as outras tentativas anteriores, essa também deverá ser inútil. A invasão ao Iraque é cada vez mais vista pelo mundo como o que ela realmente é: uma guerra imperialista e covarde, organizada por uma quadrilha de empresas bélicas e petrolíferas, com o único interesse de se apoderar das riquezas iraquianas. Além disso, a brava resistência iraquiana já expulsou do Iraque vários países, entre eles a Itália e a Espanha. A própria Inglaterra, que no início da invasão tinha mais de 30 mil soldados no Iraque, hoje tem apenas 6 mil e o governo inglês já anunciou que pretende retirar todas as suas tropas.

Em um gesto de hipocrisia sem tamanho, Harry declarou que “não poderia ficar sentado em casa enquanto meus amigos lutam por nosso país”. Mentira! Harry vai ser escoltado, dia e noite, pela SAS, a força de elite, mais bem treinada e equipada, do exército britânico e os próprios comandantes já admitem que ele pode voltar mais cedo para casa. Ou seja, Harry vai ficar escondido em algum buraco blindado enquanto os soldados britânicos praticam todos os tipos de crimes de guerra contra o povo iraquiano.

Cada diamante da família real inglesa foi roubado às custas de milhares de vidas humanas. Cada jóia da Coroa traz a marca do sofrimento e das atrocidades que o imperialismo inglês cometeu em todos os continentes do mundo. O luxo e a pompa dos palácios ingleses é financiado com a fome e as humilhações que sofreram e ainda sofrem populações inteiras. O imperialismo inglês roubou as riquezas e escravizou o continente africano por séculos. Ao sair, deixou como lembrança de sua bestialidade milhares de minas terrestres que ainda mutilam crianças diariamente. Harry, o nazista, ao decidir unir-se ao fascismo, não faz nada mais que seguir a tradição de sua decadente e vergonhosa família.

Humberto Lima

15.2.07

O Labirinto do Fauno – Retrato da Violência Fascista na Espanha de 1944


Muitos sítios sobre cinema classificaram O Labirinto do Fauno como um filme de horror, suspense ou fantasia. O filme é surreal sim mas, aprofundando um pouco mais o olhar, a temática central de O Labirinto trata, de maneira sutilmente poética, de uma das mais violentas e sanguinárias ditaduras fascistas que assolaram o mundo no século XX: a ditadura de Franco, na Espanha. O golpe da aliança burguesa Falange sobre o grupo socialista Frente Popular, vencedor das eleições em 1936, deu início à Guerra Civil Espanhola, que deixou um saldo de mais de 1 milhão de mortos e culminou na tomada do poder pelo general Francisco Franco, em 1939.

Ambientado nas montanhas de Navarra, na Espanha de 1944, o filme usa a fantasia para evidenciar a fragilidade das reações humanas em situações extremas, a realidade “criada” versus a realidade “real”: o mundo mágico da menina Ofelia (lvana Barquero) – onde aparecem fadas, o Fauno e até um grotesco ser que vê através dos olhos que tem nas mãos (Doug Jones, também intérprete do Fauno) – e o mundo real onde um capitão fascista e seu regimento tentam eliminar um dos focos da resistência camponesa.

Ofelia é uma doce menina que cria um mundo imaginário para fugir das mazelas da realidade. Seu mundo é cercado de uma “fantasia simbólica”, em que um fauno promete transformá-la na princesa de seu reino subterrâneo se ela for capaz de realizar três tarefas, testando-a ao ponto de colocar-lhe em risco a vida. A menina, de uma tristeza singular – cumprimentos à pequena atriz –, é o perfeito reflexo da inocência, das tantas inocências roubadas pelos fascistas e seus ideais de poder. Outro destaque é Mercedes (Maribel Verdú), cozinheira do capitão fascista Vidal (Sergi López) e amiga de Ofelia. Mercedes é informante dos guerrilheiros e consegue dar o exato tom da dramaticidade de O Labirinto: é a protagonista da cena mais marcante do filme em que ela, inesperadamente, reage à iminente tortura que o Capitão Vidal lhe prepara – num momento absolutamente empolgante que arranca gritos eufóricos da platéia. Essa cena, aliás, faz par com outra de igual importância que acontece no mundo imaginário de Ofelia.

As duas cenas conseguem traduzir com méritos o argumento do filme. A tortura de Mercedes é confrontada com o acontecimento mais horripilante do mundo subterrâneo – o jantar cujo anfitrião é o “homem pálido”, aquele dos olhos nas mãos –, responsável por externar em Ofelia toda a coragem e sagacidade necessárias para que conseguisse se livrar do terrível monstro. Mercedes, à iminência da tortura, teve que encontrar em si, tal como Ofelia, as mesmas coragem e sagacidade que a livrariam do capitão fascista que estava por torturá-la – este não menos monstro que aquele. Nesse momento, o espectador se questiona sobre qual seria a “realidade” mais terrível, seguramente concluindo, como Ofelia, que o mundo real pode ser bem pior.

Visualmente extraordinário, o filme demonstra beleza e poesia em cada minúcia, nas cenas, nos símbolos ou mesmo nas criaturas do mundo-fantasia. Ponto para o diretor e roteirista Guillermo del Toro, que com um orçamento de apenas US$ 5 milhões (irrisório frente aos padrões americanos) conseguiu produzir um filme incrivelmente original e envolvente. Ponto também para a encantadora fotografia de Guillermo Navarro e as belíssimas criações de figurino e maquiagem de Lala Huete e Eugenio Caballero, incluindo aí a estética do “homem pálido”, um dos seres mais criativamente bizarros já vistos no cinema. Mas o ápice é mesmo o roteiro de Del Toro, que conta a história com emocionante brilhantismo e deixa ainda, de quebra, duas ou três frases emblemáticas, de sonoridade revolucionária. Numa delas, o médico do regimento – também informante da guerrilha (Álex Angulo) –, questionado pelo Capitão Vidal sobre não ter obedecido à sua ordem de manter vivo um guerrilheiro que fora cruelmente torturado (o médico, a pedido do rapaz, aplicara-lhe uma injeção letal), desafia-o com os dizeres: “Obedecer por obedecer, sem pensar, somente o senhor o faz, Capitão!”.

Dos filmes lançados no início de 2007, O Labirinto do Fauno foi, sem dúvida, a salvação dos cinéfilos, insinuando-se já como um dos melhores filmes do ano. Em Recife infelizmente não entrou em cartaz nos grandes cinemas, tendo sido exibido somente no Cinema da Fundação – restringindo assim o acesso à obra. Uma pena, pois a bela criação de Del Toro é realmente imperdível.


Título Original: El Laberinto del Fauno
Duração: 112 minutos
Lançamento (México / Espanha / EUA): 2006
Sítio Oficial: www.panslabyrinth.com
Direção e roteiro: Guillermo del Toro



Pricylla Girão
(MSN: pricyllagirao@hotmail.com )