23.12.06

Mais dois sem-terra assassinados pelos latifundiários

No dia 17 de dezembro, o jovem Andreílson Santos Silva, de apenas 17 anos, foi assassinado a facadas em uma emboscada na cidade de Garanhuns, no interior de Pernambuco. Andreílson era integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). O crime aconteceu na Fazenda Paulista, de 1.360 hectares, cujo proprietário, Edvaldo Rodrigues Paixão, é acusado de forjar e corromper técnicos para falsificar certificados de produtividade da fazenda. Diante das denúncias, o Incra prometeu fazer uma nova avaliação, o que até agora não ocorreu. Desde 2004, essa fazenda já foi ocupada duas vezes, sendo que em todas os despejos foram violentos. No último deles, o Incra firmou um acordo para que os trabalhadores pudessem retornar para colher a produção que haviam plantado no local, mas o proprietário destruiu a lavoura. No mês passado, o Ministério Público determinou que o latifundiário pagasse uma indenização pela destruição. Desde então, as ameaças aos trabalhadores, que estão acampados na BR-423, têm sido constantes.

No dia 20 de dezembro, três dias após o assassinato de Andreílson, outro trabalhador rural foi assassinado pelos latifundiários. O trabalhador José Gomes, de 55 anos, foi morto a tiros no Engenho Natal, no município de Aliança, também no interior de Pernambuco. O Engenho Natal é um dos 22 engenhos que pertenciam à Usina Aliança que faliu em 1996. Ao todo são 7.300 hectares de terra. A dívida da Usina em direitos trabalhistas é de mais de R$ 250 milhões, e os trabalhadores reivindicam que a terra seja desapropriada para o pagamento da dívida. O Engenho Natal é um dos cinco que já foram desapropriados. Mesmo assim, segundo testemunhas, quatro homens encapuzados, e fortemente armados, invadiram o Engenho, às 21h, à procura das lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os assassinos atearam fogo em uma casa e balearam José Gomes em sua residência.

Infelizmente, os assassinatos de Andreílson Santos e José Gomes estão longe de serem casos isolados. De 2000 a 2005, 223 trabalhadores foram assassinados na luta pela terra no Brasil. Entretanto, mesmo submetidos a essa constante e mortal perseguição, os sem-terra são apresentados pela grande mídia como vândalos, baderneiros e, o cúmulo da mentira, como os responsáveis pela violência no campo. Enquanto isso, os latifundiários formam verdadeiros exércitos particulares e grupos de extermínio para intimidar qualquer trabalhador que organize a luta para que seus direitos sejam garantidos. E não é só isso. Apenas em 2005, foram libertados pelo Ministério do Trabalho nada menos de 4.133 pessoas que viviam em condições de escravidão em grandes fazendas do interior do Brasil. E esse número só não é maior porque foram feitas apenas 81 (menos de sete por mês) operações em todo o território nacional. O próprio governo federal admite a existência de pelo menos 25 mil trabalhadores escravizados no Brasil.

O que acontece é que a distribuição de terras no em nosso país é uma das mais injustas do mundo, e isso não tem a ver com a competência ou o esforço dos proprietários de terra no Brasil. A grande maioria dessas terras em disputa foram conseguidas pela grilagem, ou mesmo pela doação pura e simples aos simpatizantes dos governos autoritários brasileiros, como na Ditadura Militar, por exemplo. Sem o movimento dos sem-terra, o que existe no campo não é paz, mas sim medo, ignorância e submissão. São cidadãos brasileiros explorados há séculos que finalmente se levantam, se enchem de auto-estima e dignidade, vão à luta para defender seus direitos... e devem contar com nosso apoio.

Humberto Lima

*Para ver reportagem sobre o assassinato de Andreílson, acesse:

www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u87873.shtml

*Para ver reportagem sobre o assassinato de José Gomes, acesse:

www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u88009.shtml

*Para ver a relação das pessoas assassinadas na luta pela terra, acesse:

www.mst.org.br/mst/listagem.php?sc=9&p=3

*Para ver reportagem sobre o trabalho escravo no Brasil, acesse:

jornalaverdade.sites.uol.com.br/link/unido.html

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