No dia 20 de dezembro, três dias após o assassinato de Andreílson, outro trabalhador rural foi assassinado pelos latifundiários. O trabalhador José Gomes, de 55 anos, foi morto a tiros no Engenho Natal, no município de Aliança, também no interior de Pernambuco. O Engenho Natal é um dos 22 engenhos que pertenciam à Usina Aliança que faliu em 1996. Ao todo são 7.300 hectares de terra. A dívida da Usina em direitos trabalhistas é de mais de R$ 250 milhões, e os trabalhadores reivindicam que a terra seja desapropriada para o pagamento da dívida. O Engenho Natal é um dos cinco que já foram desapropriados. Mesmo assim, segundo testemunhas, quatro homens encapuzados, e fortemente armados, invadiram o Engenho, às 21h, à procura das lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os assassinos atearam fogo em uma casa e balearam José Gomes em sua residência.
Infelizmente, os assassinatos de Andreílson Santos e José Gomes estão longe de serem casos isolados. De 2000 a 2005, 223 trabalhadores foram assassinados na luta pela terra no Brasil. Entretanto, mesmo submetidos a essa constante e mortal perseguição, os sem-terra são apresentados pela grande mídia como vândalos, baderneiros e, o cúmulo da mentira, como os responsáveis pela violência no campo. Enquanto isso, os latifundiários formam verdadeiros exércitos particulares e grupos de extermínio para intimidar qualquer trabalhador que organize a luta para que seus direitos sejam garantidos. E não é só isso. Apenas em 2005, foram libertados pelo Ministério do Trabalho nada menos de 4.133 pessoas que viviam em condições de escravidão em grandes fazendas do interior do Brasil. E esse número só não é maior porque foram feitas apenas 81 (menos de sete por mês) operações em todo o território nacional. O próprio governo federal admite a existência de pelo menos 25 mil trabalhadores escravizados no Brasil.
O que acontece é que a distribuição de terras no em nosso país é uma das mais injustas do mundo, e isso não tem a ver com a competência ou o esforço dos proprietários de terra no Brasil. A grande maioria dessas terras em disputa foram conseguidas pela grilagem, ou mesmo pela doação pura e simples aos simpatizantes dos governos autoritários brasileiros, como na Ditadura Militar, por exemplo. Sem o movimento dos sem-terra, o que existe no campo não é paz, mas sim medo, ignorância e submissão. São cidadãos brasileiros explorados há séculos que finalmente se levantam, se enchem de auto-estima e dignidade, vão à luta para defender seus direitos... e devem contar com nosso apoio.
Humberto Lima
*Para ver reportagem sobre o assassinato de Andreílson, acesse:
www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u87873.shtml
*Para ver reportagem sobre o assassinato de José Gomes, acesse:
www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u88009.shtml
*Para ver a relação das pessoas assassinadas na luta pela terra, acesse:
www.mst.org.br/mst/listagem.php?sc=9&p=3
*Para ver reportagem sobre o trabalho escravo no Brasil, acesse:
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