Nenhum fotógrafo contemporâneo conseguiu expressar tão bem os contrastes sociais do mundo capitalista quanto o brasileiro Sebastião Salgado.
O princípio elementar da fotografia é o registro da luz numa superfície. Contudo, o princípio elementar de uma grande foto não está em “saber clicar”, como ensina o próprio Salgado: “A fotografia não é feita pelo fotógrafo. A foto sai melhor ou pior de acordo com a relação entre o fotógrafo e a pessoa que fotografa”.
E é assim, com um profundo senso de humanismo, calcado por um compreensão marxista da realidade, aliado a muita simplicidade, que Sebastião Salgado consegue se diferenciar dos demais fotógrafos, fugindo da pretensa impessoalidade de certas correntes do (foto)jornalismo: “Fotografa-se com toda carga ideológica”, diz ele.
Nascido em 1944, na cidade mineira de Aymorés, Sebastião Salgado é economista com doutorado pela Universidade de Paris, tendo atuado na profissão só até os trinta nos, quando, então, decidiu se dedicar totalmente à fotografia.
Fotógrafo reconhecido internacionalmente, recebeu praticamente todos os principais prêmios de fotografia do mundo. Trabalhou para as agências Sygma entre 1974 e 1975, para a agência Gamma de 1975 a 1979, e depois foi eleito membro da Magnum Photos, uma cooperativa internacional de fotógrafos, onde permaneceu de 1979 a 1994. Neste mesmo ano, fundou sua própria agência, a Amazonas Image.
Como fotojornalista, cobriu acontecimentos como as guerras em Angola e no Saara espanhol, o seqüestro de israelitas em Entebbe e o atentado contra o presidente norte-americano Ronald Reagan. Paralelamente passou a se dedicar a projetos de documentários mais elaborados e pessoais, que somam hoje mais de dez publicações. Entre elas, pode-se destacar Outras Américas (1986), um estudo das diferentes culturas da população rural e da resistência cultural dos índios e de seus descendentes no México e no Brasil, realizado durante oito anos. Sahel: O Homem em Pânico (1986), um documento sobre a dignidade e a perseverança de pessoas nas mais extremas condições de existência, em que trabalhou 15 meses com o grupo francês Médicos Sem Fronteiras, durante a seca na região do Sahel, no Norte da África. Trabalhadores (1993), um documentário fotográfico sobre o fim do trabalho manual em grande escala, fotografado em 26 países e resultado de sete anos de registros. Terra: Luta dos Sem-Terra (1997), sobre a luta pela terra no Brasil, centrado nos acampamentos e assentamentos do MST. E Êxodos e Crianças (2000), que retrata a vida de retirantes, refugiados e migrantes de 41 países.
No texto de apresentação deste último trabalho Salgado escreveu: “Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constróem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas”.
Gênesis: uma nova face do artista
Em seu mais recente trabalho, Gênesis (2006), Sebastião Salgado revela uma nova face. Nele, apresenta uma parte do planeta ainda não ameaçada pelo descuido do homem e pela degradação capitalista. Aqui se pode enxergar o florescimento de uma biodiversidade, algo que remete a um passado distante, quando existia um equilíbrio ecológico.
Gênesis é, na verdade, muito mais que uma peça artística. É um projeto educacional que visa conscientizar crianças, jovens e adultos para a preservação ambiental. A primeira fase do projeto (prevista para durar oito anos) foi lançada em abril deste ano para cerca de 100 escolas de Vitória, capital do Espírito Santo e, neste último mês de novembro, foi lançada internacionalmente com uma exposição itinerante.
Com as fotos de lugares raros e animais exóticos de regiões como a Patagônia, as Ilhas Galápagos, a Antártida e as selvas africanas, Sebastião Salgado pretende levar pelo mundo a mensagem viva dos seres da Terra como alerta para que a salvemos.
*Página oficial na internet: www.sebastiaosalgado.com.br
*Para conhecer o novo trabalho de Salgado:
Rafael Freire
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